Manter a carteirinha de vacinação atualizada é fundamental para a saúde do seu pet. De acordo com as “Novas diretrizes vacinais para cães – uma abordagem técnica e ética”, publicadas na revista científica Clínica Veterinária, a vacinação ainda é o método de proteção mais confiável e eficaz contra as doenças infecciosas que acometem os animais. Além disso, quanto mais cães e gatos forem vacinados, maior será a proteção geral, pois a imunizaçãoem massa produz o chamado “efeito rebanho.” “Imagine se conseguirmos vacinar 80% dapopulação. Aqueles 20% que não foram vacinados ficam protegidos porque estão no meio dos outros”, explica o médico veterinário César Dinóla, doutor em Microbiologia e um dos autores do documento.
ANTES DA INJEÇÃO
Para dar aquela picadinha, o veterinário deve fazer um exame clínico para verificar se o pet está saudável e apto a receber a vacina, pois qualquer problema, como diarreia, febre, infecções, vermes, pulgas e carrapatos, tem de ser tratado antes da vacinação. Os animais devem ser vacinados desde pequenos – 45 a 60 dias de vida – para criar anticorpos contra vírus e bactérias que causam doenças graves e fatais, como a cinomose, enfermidade viral com sintomas gastrointestinais, respiratórios, neurológicos e cutâneos.“Filhotes recebem inicialmente três doses de vacina com intervalos entre 20 e 30 dias. Na última dose recebem a antirrábica”, explica Dinóla. Os mascotes com mais de quatro meses de idade devem receber anualmente a vacina antirrábica contra raiva, doença grave e sem cura manifestada por sinais neurológicos. Além das vacinas prioritárias, o veterinário pode indicar outras específicas, dependendo do histórico do bicho e da região onde vive. Em regiões mais susceptíveis à ocorrência da leptospirose (causada por diferentes bactérias e responsável por lesões e hemorragias nos rins e fígado), por exemplo, o animal precisa tomar o reforço contra a doença a cada seis meses. As principas vacinas são contra a giárdia (causada por parasita no intestino), a tosse dos canis (infecção respiratória aguda) e a leishmaniose visceral (doença grave transmitida pela picada do mosquito-palha).
QUAL A MAIS INDICADA?
Existem dois tipos de vacinas no mercado: as inativas, que são produzidas a partir do vírus morto, e as atenuadas ou modificadas, fabricadas com vírus vivos. As vacinas básicas são todas polivalentes, ou seja, protegem contra várias doenças. Para definir qual é a mais recomendada para o seu bichinho de estimação, o médico veterinário avalia aspectos variados como a idade do animal, seu histórico de saúde, a raça e grau de exposição a vírus e bactérias, informação que está ligada ao cotidiano do pet.
As vacinas caninas são chamadas de V8, V10 e V11 e protegem os peludos contra as doenças: cinomose,coronavirose (transmitida por fezes contaminadas), hepatite infecciosa (doença viral com manifestação hepática e ocular), leptospirose, parvovirose (vírus que causa diarreia e vômito), além da influenza e do adenovírus, que são patologias virais do sistema respiratório. A principal diferença entre elas é que a V10 e a V11 contêm agentes protetores contra mais variações da leptospirose.
CUIDADOS DOS GATOS
A jornalista Gabriela Arbex tem três gatos Persas: Label, Petra e Baileys, todas com pouco mais de 1 ano de idade. Ela conta que segue a orientação da veterinária para manter a imunização dos felinos em dia.“Temos de ser responsáveis ao decidir ter um pet, pois muitas doenças podem ser evitadas”, diz. No entanto, a jornalista não é maioria, já que muitos donos de gatos acham que eles não precisam ser vacinados. Os felinos recebem inicialmente três doses da vacina polivalente (V3, V4 ou V5). A V3 protege os bichanos contra a panleucopenia (doença viral transmitida pelo contato com fezes e objetos contaminados), a calicivirose (infecção respiratória causada por vírus) e a rinotraqueíte (causa problemas respiratórios e alterações oculares). A V4 também previne a clamidiose, doença bacteriana causadora de lesões oculares. Já a V5, além das outras doenças, evita a leucemia viral felina (FeLV), sem cura e contraída pela saliva de animais contaminados. Além de todas essas doenças, gatos também devem ser imunizados contra a raiva,com reforço anual.
EFEITOS COLATERAIS
A designer Izilda Simões conta que sempre que Toddy, seu Chihuahua de 5 anos, é vacinado, fica amuado, quieto, perde o apetite e não come o dia inteiro. “Ele adora colo, mas nem disso quer saber, pois sente muita dor ao ser tocado.” O que Toddy sente são os efeitos colaterais mais comuns das vacinas, além da sonolência, febre e inchaço no local da aplicação. “Nos casos mais leves de dor, você pode fazer uma compressa de água quente. A prostraçãopassa em até dois dias. Mas se o animal tiver uma reação alérgica mais forte, é importante levá-lo ao veterinário”, destaca Thomas Faria Marzano, presidente da Sociedade Paulista de Medicina Veterinária. Além disso, ele observa que muitas pessoas têm medo de retornar ao consultório depois que os pets têm essas reações, o que é perigoso. “Alguns animais só adquirem a imunidade total quando recebem a terceira dose da vacina”, diz. Segundo Dinóla, um estudo feito na clínica veterinária da instituição de ensino mostrou que a incidência de reações adversas às vacinas é menor do que 1% e a frequência de efeitos graves é pequena. “O choque anafilático é o mais preocupante, pois o cão pode morrer se não for socorrido rapidamente”, alerta.
SUPERVACINAÇÃO X NOVOS PROTOCOLOS
A discussão sobre a vacinação excessiva vem sendo intensificada em todo o mundo. Veterinários temem o aumento do risco de reações adversas devido à exposição repetida dos pets a algumas substâncias e questionam os benefícios do reforço anual, já que muitas vacinas protegem por anos. Com isso, a Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA) recomenda o reforço das vacinas essências a cada três anos. Porém, para o veterinário César Dinóla, existem limitações que dificultam a adoção das novas recomendações no Brasil, como a falta de produtos monovalentes e o pouco acesso a exames laboratoriais sorológicos, que avaliam a quantidade de anticorpos protetores nos animais.